A Coragem de Ser Autêntico: Um Convite à Verdade de Si Mesmo

Autor: Nuno Tomaz Santos , 25/01/2025 (95 visualização)
Crise emocional, Pensamentos obsessivos, Baixa autoestima, Auto-identificação, Desenvolvimento pessoal
A Coragem de Ser Autêntico: Um Convite à Verdade de Si Mesmo

Uma reflexão poderosa sobre a importância de aceitar a própria agressividade como força vital para viver de forma autêntica, com coragem e verdade.

Viver autenticamente exige coragem. É um ato de resistência num mundo que muitas vezes nos ensina a esconder a nossa essência em nome da aceitação, a reprimir a raiva, o desejo e a nossa própria voz para evitar julgamentos. No entanto, a autenticidade não é apenas um ideal romântico; é uma necessidade humana fundamental, que nasce de uma força essencial muitas vezes incompreendida: a agressividade.

A agressividade não é sinónimo de violência. Pelo contrário, é a energia que nos permite dizer “sim” ao que desejamos e “não” ao que nos faz mal. É a pulsação da vida, a força que nos move para construir, transformar e reivindicar o nosso espaço no mundo. Quando aprendemos a integrar essa energia, tornamo-nos capazes de viver com mais verdade e de estabelecer relações mais honestas e significativas.

Desde cedo, somos moldados pelas experiências no ambiente em que crescemos. A forma como os nossos primeiros cuidadores reagem às nossas explosões de raiva ou frustração ensina-nos, muitas vezes de forma inconsciente, a lidar com a nossa agressividade. Se crescemos num ambiente que acolhe as nossas emoções com empatia e nos ajuda a canalizá-las, aprendemos que é seguro expressar o que sentimos. Mas, quando o ambiente invalida ou reprime essa expressão, criamos defesas. Tornamo-nos pessoas que evitam conflitos, que sacrificam a própria vontade para agradar os outros, ou que explodem de forma descontrolada porque não aprenderam a regular a sua raiva.

A agressividade saudável é um convite à autenticidade. Permite-nos ser quem somos, com imperfeições e tudo. É ela que nos dá a força para estabelecer limites, para dizer não ao que nos fere, e sim ao que nos faz crescer. É ela que nos empurra a correr riscos, a lutar pelos nossos sonhos, a defender as nossas ideias e a sustentar as nossas verdades, mesmo que estas não agradem a todos.

Na prática, expressar essa força requer desconstruir padrões e medos que aprendemos ao longo da vida. Pense num adulto que evita conflitos a todo o custo. Este comportamento pode ter raízes numa infância onde cada erro ou explosão de raiva foi punida ou envergonhada. Para essa pessoa, reencontrar a agressividade saudável é um processo de libertação. É reaprender que dizer “não” não significa rejeitar o outro, mas afirmar-se a si mesmo.

Esse trabalho pode ser feito em terapia, um espaço onde é possível revisitar as dores do passado, compreender as emoções reprimidas e experimentar formas novas de expressar o que sempre esteve lá dentro. O terapeuta, como um espelho empático, ajuda a pessoa a recuperar a coragem de sentir e de dizer, devolvendo-lhe a sua voz.

Nas relações, essa coragem transforma a dinâmica. Quando somos capazes de expressar a nossa agressividade de forma assertiva, abrimos espaço para uma comunicação mais verdadeira. Deixamos de alimentar ressentimentos silenciosos e passamos a negociar os nossos desejos e limites com respeito e empatia. A autenticidade, aqui, deixa de ser uma ameaça e torna-se a base para relações mais profundas.

No fundo, ser autêntico é aceitar o paradoxo que Rainer Maria Rilke descreveu: “Que todas as coisas se confrontem em mim para criar o meu eu mais profundo.” A agressividade é parte essencial dessa criação. É a força que nos convida a enfrentar a vida com honestidade e a olhar para dentro de nós mesmos sem medo.

A verdadeira liberdade não está em evitar conflitos, em esconder a nossa raiva ou em moldarmo-nos às expectativas alheias. Está em aceitar que somos seres completos, feitos de desejos, de limites, de amores e de confrontos. Ser autêntico é ter a coragem de sermos inteiros, de sermos quem somos, mesmo quando isso exige confrontar o mundo – e, acima de tudo, a nós mesmos.

Que espaço damos à nossa verdade? Estamos dispostos a enfrentar o desconforto de sermos autênticos? Que voz ainda nos falta libertar? Estas são as perguntas que nos levam, um passo de cada vez, à coragem de ser plenamente humanos.

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