Reflexões acerca da Neurodivergência e o Diagnóstico tardio em TEA ou TDAH
Neurodivergência versus Diagnóstico tardio do TEA ou TDAH
A compreensão sobre a neurodiversidade tem evoluído nas últimas décadas, proporcionando uma visão mais inclusiva e humanizada das diferentes formas como o cérebro humano processa informações e responde ao mundo. O termo neurodivergência refere-se a condições neurológicas como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outras, que se desviam da norma neurológica estabelecida, sem que isso necessariamente implique uma patologia. Esse conceito tem sido crucial para desafiar a estigmatização de pessoas com essas condições, promovendo a aceitação da diversidade cognitiva.
Contudo, uma questão de crescente preocupação é o diagnóstico tardio dessas condições, especialmente do TEA e TDAH. Muitos adultos convivem anos ou até décadas com desafios emocionais, sociais e cognitivos sem entender o porquê de suas dificuldades. Quando diagnosticados já na fase adulta, muitas vezes após um longo histórico de frustrações, dificuldades acadêmicas ou de adaptação ao mercado de trabalho, as pessoas relatam um misto de alívio e luto. O alívio vem da compreensão de que suas experiências têm uma explicação neurobiológica, enquanto o luto surge pela sensação de tempo perdido e pelas oportunidades que poderiam ter sido diferentes com intervenções mais precoces.
O diagnóstico tardio, especialmente de TEA e TDAH, revela também uma falha nos sistemas educacionais e de saúde, que muitas vezes não conseguem identificar sinais atípicos durante a infância ou adolescência. No caso do TEA, pessoas com níveis mais sutis de dificuldade podem "mascarar" suas características autistas, especialmente mulheres, que muitas vezes são socialmente condicionadas a imitar comportamentos neurotípicos. Da mesma forma, no TDAH, indivíduos podem ser rotulados como "distraídos" ou "preguiçosos" sem que se perceba que há uma base neurológica para essas dificuldades, como a incapacidade de manter a atenção ou de lidar com o hiperfoco.
A demora no diagnóstico pode acarretar consequências sérias, como baixa autoestima, ansiedade, depressão e dificuldade de formar relacionamentos saudáveis. Além disso, a ausência de um diagnóstico impede o acesso a intervenções terapêuticas adequadas, que poderiam melhorar a qualidade de vida desses indivíduos. Para muitos, o tratamento psicoterapêutico aliado ao uso de medicação, quando necessário, pode trazer melhorias significativas nas suas habilidades de lidar com o cotidiano, aumentando sua autonomia e bem-estar.
A neurodivergência, nesse contexto, torna-se um conceito chave para que o diagnóstico tardio não seja visto apenas como uma falha, mas como uma oportunidade de recomeço e compreensão. Ao validar a diversidade cognitiva, ela abre espaço para o desenvolvimento de intervenções mais personalizadas e, ao mesmo tempo, para que a sociedade se torne mais inclusiva e consciente das diferentes formas de ser e existir no mundo.
Finalmente, enquanto a conscientização sobre a neurodivergência cresce, é essencial que os profissionais de saúde mental e educadores recebam formação adequada para identificar sinais sutis de TEA e TDAH em todas as idades. Com isso, poderemos evitar o sofrimento causado pelo diagnóstico tardio, permitindo que mais pessoas neurodivergentes alcancem seu pleno potencial desde cedo.
Neurodivergência e Camuflagem Social em Mulheres com TEA: Um Olhar sobre a Imitação de Comportamentos Neurotípicos
As mulheres com Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialmente aquelas com níveis mais sutis de autismo, frequentemente adotam estratégias de camuflagem social para se ajustarem às expectativas e normas sociais. Essas estratégias incluem a imitação de comportamentos neurotípicos, com o objetivo de evitar a exclusão ou o estigma social. A camuflagem pode parecer uma solução temporária, mas muitas vezes traz consequências emocionais a longo prazo, como ansiedade, exaustão e, em muitos casos, diagnósticos tardios ou incorretos. Aqui, exploramos alguns exemplos práticos de como essa camuflagem ocorre no dia a dia das mulheres com TEA em níveis mais sutis.
Mulheres com TEA muitas vezes observam os comportamentos de outras pessoas neurotípicas para entender como devem agir em contextos sociais. Isso pode incluir imitar expressões faciais, reações emocionais e formas de responder em conversas. Embora não necessariamente compreendam as nuances emocionais por trás dessas interações, elas se adaptam para "encaixar-se" socialmente.
Exemplo: Imagine uma mulher com TEA em uma roda de amigas que estão rindo de uma piada. Mesmo que ela não tenha entendido o humor ou não veja graça, ela pode se sentir pressionada a rir junto com as outras, imitando suas expressões faciais e entonação de voz. Essa imitação serve para evitar parecer desconectada ou "fora do grupo", mas pode deixá-la cansada e desconfortável, pois este comportamento social não reflete seu estado interno.
Estereotipias, como balançar as mãos ou repetir movimentos, são comuns em pessoas com TEA. No entanto, muitas mulheres aprendem a suprimir esses comportamentos em ambientes sociais para não parecerem "estranhas" ou diferentes. A necessidade de se conformar às expectativas sociais leva essas mulheres a conterem suas respostas naturais, o que pode gerar uma sensação constante de autocontrole e tensão.
Exemplo: Uma mulher que sente a necessidade de balançar as mãos quando está ansiosa pode suprimir esse comportamento em público. Ela pode esconder as mãos nos bolsos ou entrelaçá-las para evitar que outros percebam sua estereotipia. Apesar de conseguir "mascarar" esse comportamento, a ansiedade pode aumentar, pois a autos supressão de uma necessidade natural agrava seu desconforto interno.
Outro aspecto da camuflagem envolve a adaptação da linguagem corporal e do estilo de conversa. Mulheres com TEA podem observar como outras pessoas fazem contato visual, gesticulam ao falar ou ajustam o tom de voz, e tentam imitar esses comportamentos para parecerem mais socialmente competentes. No entanto, essa adaptação muitas vezes é apenas superficial e não representa uma compreensão genuína das interações nem expressam a forma como ela gostaria de se expressar.
Exemplo: Durante uma entrevista de emprego ou em uma reunião social, uma mulher com TEA pode forçar o contato visual, mesmo que isso a deixe extremamente desconfortável. Ela também pode exagerar os gestos das mãos ou alterar sua entonação de voz para se alinhar ao comportamento de seus interlocutores. Embora essas mudanças ajudem-na a "se misturar", o esforço mental necessário para monitorar e ajustar cada detalhe da interação pode resultar em exaustão e estresse ao final do evento.
Muitas mulheres no espectro autista utilizam sua aparência física, como roupas e maquiagem, para se adequar ao ambiente social. O uso de vestuário específico, mesmo que não seja confortável, é uma maneira de evitar críticas ou olhares que possam denunciá-las como diferentes. A aparência, nesse contexto, torna-se uma armadura social que contribui para a camuflagem.
Exemplo: Uma mulher autista pode sentir-se confortável com roupas simples e discretas, mas, em situações sociais, usa roupas mais chamativas ou maquiagens elaboradas para parecer que está "dentro do padrão". Ela pode fazer isso para evitar comentários sobre sua aparência ou para evitar chamar atenção de forma negativa. No entanto, isso gera uma sensação de inautenticidade, pois não reflete sua verdadeira personalidade ou preferências.
Normas de gênero muitas vezes pressionam mulheres a assumirem papéis de cuidadoras, algo que também afeta mulheres com TEA. Para se ajustarem a essas expectativas, muitas delas podem desempenhar um papel de empatia forçada em relacionamentos, mesmo quando têm dificuldades em compreender as emoções alheias. Esse comportamento visa evitar o julgamento de que são "frias" ou "insensíveis".
Exemplo: Em um relacionamento romântico ou em amizades próximas, uma mulher autista pode esforçar-se para demonstrar empatia emocional, mesmo que suas dificuldades naturais com a teoria da mente (**) (a habilidade de entender o que o outro está pensando ou sentindo) tornem isso difícil. Ela pode memorizar respostas apropriadas, como abraços ou palavras de consolo, para parecer mais envolvida emocionalmente, embora isso muitas vezes venha de uma compreensão mais cognitiva do que emocional.
No ambiente profissional, mulheres com TEA podem sentir uma pressão intensa para se comportarem de maneira neurotípica. Isso inclui ser socialmente engajada com colegas, participar de conversas triviais, e lidar com críticas de forma apropriada. Elas podem, então, esconder suas dificuldades em seguir instruções ambíguas ou manter um foco prolongado.
Exemplo: Uma mulher no espectro pode participar de reuniões de trabalho tentando se adaptar a conversas informais ou a dinâmicas de grupo, mesmo que prefira ficar em silêncio ou tenha dificuldades em se expressar com rapidez. Ela pode forçar-se a ser mais extrovertida, fazendo pequenas conversas ou rindo de piadas dos colegas, embora essas interações lhe causem cansaço e ansiedade. Após o expediente, é comum que ela se sinta completamente esgotada pela necessidade de camuflar seu verdadeiro estado.
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